Um dia ela abriu a porta de casa e saiu. O sol cegou seus olhos por um momento, mas a luz também era aconchegantemente quente. Desceu o degrau q levava a rua e seus pés tocaram o asfalto. O asfalto era áspero, escaldante, queimava-lhe os pés. Ela agora ardia, ardia do asfalto quente.
Mas a porta já estava aberta , ela já descera o degrau, os pés queimados não podiam impedir que seguisse. Ela seguiu, até o fim da rua, cada passo lhe queimava mais a alma, mas a porta já fora aberta, então ela seguia. Virou a esquina e foi interrompida por uma bicicleta que não se interrompeu e acabou por cima dela.
Ela se encontrou inteira com o asfalto. o ardor da alma era-lhe agora também da pele. Sua pele cobria-se de sangue, o sangue escorria, sua alma escorria. A bicicleta continuou insensível. Ela levantou-se, seu corpo tremia, tremia em dor. M as a porta já estava aberta e ela seguiu.
E caminhou. Seu sangue ia misturando-se ao asfalto negro. Sua alma escorrendo. Caminhou. Caminhou até encontrar um menino. Menino também descalço, sem nome. Um menino, e foi isso que a fez esquecer suas feridas e experimentar a verdadeira dor, um menino com fome.
Ela correu. Correu porque sua alma doía de uma dor sem fim. Correu porque não entendia aquela dor. Correu , correu porque a porta estava aberta. Correu pelo mundo. E viu, aquilo que se deixa de ver todos os dias, ela viu o mundo. Viu o mundo e sentiu dor.
Estava aberta. Pela porta da casa entrou a dor, sua pele ficou marcada, mas seus pés, nunca mais tocaram o asfalto. Estava aberta e a dor nunca mais a deixou.
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3 comentários:
Algumas marcas ficam em nossa pele pra sempre. Quer sejam belas tatuagens ou horriveis cicatrizes, todas ensinam nossos pés a escolher melhor o caminho.
Lindo texto Jô, continue produzindo.
Bjoss
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