sábado, 27 de outubro de 2007

Uma história qualquer

Um dia ela abriu a porta de casa e saiu. O sol cegou seus olhos por um momento, mas a luz também era aconchegantemente quente. Desceu o degrau q levava a rua e seus pés tocaram o asfalto. O asfalto era áspero, escaldante, queimava-lhe os pés. Ela agora ardia, ardia do asfalto quente.
Mas a porta já estava aberta , ela já descera o degrau, os pés queimados não podiam impedir que seguisse. Ela seguiu, até o fim da rua, cada passo lhe queimava mais a alma, mas a porta já fora aberta, então ela seguia. Virou a esquina e foi interrompida por uma bicicleta que não se interrompeu e acabou por cima dela.
Ela se encontrou inteira com o asfalto. o ardor da alma era-lhe agora também da pele. Sua pele cobria-se de sangue, o sangue escorria, sua alma escorria. A bicicleta continuou insensível. Ela levantou-se, seu corpo tremia, tremia em dor. M as a porta já estava aberta e ela seguiu.
E caminhou. Seu sangue ia misturando-se ao asfalto negro. Sua alma escorrendo. Caminhou. Caminhou até encontrar um menino. Menino também descalço, sem nome. Um menino, e foi isso que a fez esquecer suas feridas e experimentar a verdadeira dor, um menino com fome.
Ela correu. Correu porque sua alma doía de uma dor sem fim. Correu porque não entendia aquela dor. Correu , correu porque a porta estava aberta. Correu pelo mundo. E viu, aquilo que se deixa de ver todos os dias, ela viu o mundo. Viu o mundo e sentiu dor.
Estava aberta. Pela porta da casa entrou a dor, sua pele ficou marcada, mas seus pés, nunca mais tocaram o asfalto. Estava aberta e a dor nunca mais a deixou.

3 comentários:

Letícia Mori disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Letícia Mori disse...

Algumas marcas ficam em nossa pele pra sempre. Quer sejam belas tatuagens ou horriveis cicatrizes, todas ensinam nossos pés a escolher melhor o caminho.
Lindo texto Jô, continue produzindo.
Bjoss

Letícia Mori disse...
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